segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Protesto em Defesa do Bem Cultural da Cidade de Recife

NAÇÃO DO MARACATU PORTO RICO
FUND 07 DE SETEMBRO DE 1916
CNPJ 10.052.454/0001-60

Ao Sr. Prefeito Geraldo Júlio e a Sra. Secretária de Cultura Leda Alves (minha amiga de muitos Carnavais).

Venho por meio desta apresentar em forma de protesto em defesa do bem cultural da cidade de Recife. Há vários anos vem acontecendo um grande descaso com as agremiações que participam do concurso das Nações de Maracatu, no entanto os governantes não lembram que as Nações de Maracatu vivem na dependência desse concurso. Não na dependência financeira, pois o dinheiro não compensa nada disso sendo que vão se embora a saúde, o ego e toda a satisfação que a gente tem.

A comunidade do Pina aqui no Bode trabalha o ano todo em busca da realização desse trabalho na Nação Porto Rico. E para isso é exigido anos após anos diversos documentos. Fazemos o possível e o impossível. Vamos à busca do que temos e do que não temos para fazer com que o maracatu saia maravilhosamente lindo com 180 (cento e oitenta), batuqueiros e quase 500 (quinhentos figurantes), Não só para a comunidade do Pina, mas também para o público em geral que nos abraça todos os  anos.

Quando a gente chega à passarela, primeiramente, onde fazemos a concentração para vestir os figurinos e da Nação em geral, não há um banheiro químico si quer, não há uma iluminação adequada, segurança nenhuma, não temos uma ambulância. No meio da Dantas Barreto estamos à mercê da chuva, dos marginais, furtos ou até de uma tragédia como o tiroteio que aconteceu no mesmo local em 2011. Quando chegamos à passarela, o que encontramos? Encontramos um lugar onde seremos respeitados dignamente como carnavalescos? Não!

Entrando na passarela, o microfone não funciona, outro microfone chega e este também não funciona e ao mesmo tempo o locutor chamando a nação para entrar, mais como entrar sem microfone? Prova que eles não têm nenhuma comunicação entre eles. A Nação Porto Rico, com um trabalho de anos entra sem microfone, sem sonorização. Entra com a cara e a coragem no peito e o canto no gogó. Em frente à comissão julgadora, mandam outro microfone que também não funciona. Aí, eu pego o microfone do locutor, o quarto já, e este finalmente funciona. E as meninas do coral que deveriam vir cantando comigo desde o início? Vieram sem microfone também. Não tinha microfone para mim imagine pra elas. Quando elas chegaram à frente da comissão julgadora e começaram a cantar, o som chegava atrasado, ou seja, engenharia de som zero. O engenheiro que projetou aquele som pelo jeito não entende nem de som de boteco, quanto mais de uma passarela. Uma passarela onde, eu com 180 batuqueiros, fizemos o recuo e vi batuqueiro encostado na parede apertado. Que passarela é essa? Uma passarela onde os batuqueiros nem conseguiam tocar por causa do espaço nem me ouvirem. Será que o engenheiro que projetou aquela passarela tem consciência disso? O público não conseguia ouvir, os jurados também não. Os jurados estavam ali julgando o quê? Eles não conseguiam entender nada. Fora que o jurado chega às 18h00 para julgar até às 8 horas da manhã. Que jurado é esse? Quem são esses PHD’s que conseguem julgar diversas manifestações por 14 horas? Então fica difícil toda essa cobrança sem dar nenhuma estrutura para o nosso trabalho.

Talvez seja como o presidente do Olodum, João Jorge Rodrigues, colocou recentemente em uma entrevista: estão querendo levar nosso carnaval para os guetos e deixar na cidade somente os grandes carnavais que são feitos por grandes investidores. E o nosso? É isto que está parecendo, pois em uma passarela tão citada você não vê um camarim, um policiamento, um posto médico onde no mínimo qualquer criança ou idoso possa ser atendido. Será que nossas crianças não são gente? Não são humanas? Não tem alma? Estão nos tratando como os escravos eram tratados. E pela forma que estamos sendo tratado, Porto Rico fez o que fez e pediu para que seu desfile não contasse ponto. Pela Prefeitura não ter dado o subsídio mínimo. O mínimo de respeito e nem o mínimo sequer de responsabilidade sociocultural para com as agremiações. Por este constrangimento passou Porto Rico, o Encanto do Pina e as várias Nações que por ali desfilaram. Nenhuma teve coragem de falar e por isso eu falei! Este é um desabafo de algo que vem ocorrendo há anos. Mas este ano foi o fim da picada.

Pessoas idosas, crianças e todo o restante da comunidade merecem respeito. Estou falando de pessoas, imagine uma manifestação com mais de 200 anos? O que ela representa para o carnaval do Recife? Absolutamente nada? Pois se representasse não estaríamos jogados aos trancos e barrancos como os governantes vêm fazendo conosco todos os anos.

Recebemos 20, 30 e gastamos 45. Sem falar a saúde e a moral devastada. O carnaval é alegria e felicidade, mas que felicidade e alegria a gente tem? Nenhuma! Colocando numa balança e medindo tudo isso, vejo indo embora a minha saúde e a vida da minha Nação. Faço a seguinte pergunta: de que forma a Prefeitura vê isso? E, se vê, joga na mão de pessoas incompetentes, irresponsáveis, que nem o trânsito da rua que é a saída das agremiação pode fechar deixando nosso povo a mercê dos ônibus e caminhão que a qualquer momento pode acontecer um trajedia, depois fazem o seu relatório maquiado dizendo que tudo foi uma maravilha. Tudo uma mentira e é aí onde nosso povo tem que se questionar: o que vale a pena? Nada disso vale a pena. Vale a pena quando você faz um trabalho e é respeitado. Quando você é bem recebido, quando nos dão estrutura para você apresentar o seu carnaval. Para que trabalhar o ano inteiro e para quem? O que vale a pena? Saúde, dedicação e muito trabalho. Senhoras acima de 75 anos que mal podem andar e crianças de colo e de 2 a 3 anos não tem condições para essa falta de estrutura. Sinto que não vale mais a pena.

Eu não quero acreditar que a preocupação da Prefeitura seja o Marco Zero, a Praça do Arsenal e a Rua da Moeda. No dia em que a Prefeitura organizar um concurso em que haja estrutura e acima de tudo respeito, Porto Rico volta! Essa passarela, hoje, não é digna de receber a nossa Nação Porto Rico (não é digna de receber nenhuma agremiação). Eu e minha Nação não vamos viver a mercê da escravidão. Infelizmente este ano Porto Rico parou de competir! Só voltaremos quando a Prefeitura apresentar um projeto digno de respeito, pois até então não queremos brigas queremos trabalhar em parceria com essa nova administração o qual confio muito na pessoa da Senhora Leda Alves a qual tenho muito respeito.  Devemos uma satisfação ao público recifense, do Brasil e do mundo inteiro que nos acompanhou por todos esses anos.


Com muito respeito e apreço a toda essa Secretaria que foram trabalhos de três décadas com muita dedicação e carinho para com o carnaval do Recife.

Deixo-me a disposição para qualquer informação que precisar sem mais para o momento.  


ATT


Chacon Viana

Mestre e Tesoureiro


Elda Ivo Viana

Rainha Presidente



Recife, 12 Fevereiro de 2013


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